A doença, que atinge pessoas de todas as classes sociais, está entre as de maior incidência na população infantil do país. De acordo com o dr. Guilherme José Sigrist, pediatra colaborador da Associação Brasileira de Pediculose*, a única maneira comprovadamente eficaz para eliminar 100% de piolhos e lêndeas é o uso do pente fino de metal associado a um pediculicida garantido pelo Ministério da Saúde.
"O pior inimigo não é o piolho, mas a lêndea. O melhor pediculicida não mata mais que 60% das lêndeas. A maneira mais simples e eficaz para combater a pediculose é o uso periódico do pente fino de metal tanto para prevenir, como para eliminar lêndeas e piolhos", explica Sigrist
*Associação Brasileira de Pediculose - ABP, entidade sem fins lucrativos, tem como principal objetivo reunir estudiosos e profissionais na área de saúde com o intuito de realizar pesquisas acadêmicas, promover campanhas, cursos, simpósios, seminários, congressos, conferências e palestras com vistas à prevenção e tratamento da pediculose no Brasil. Além disso, a ABP poderá desenvolver tecnologias alternativas, produzir e divulgar informações e conhecimentos técnico-científicos sobre a doença. E-mail: abpediculose@uol.com.br
PEDICULOSE CAPILAR, PROVOCADA POR PIOLHOS, NÃO DISTINGUE CLASSE SOCIAL E PREDOMINA SOBRE DEMAIS ENFERMIDADES INFANTIS
"Pediculose é a infestação cutânea causada pela presença do 'Pediculus capitis', conhecido popularmente como piolho da cabeça. Trata-se de uma doença endêmica - se dá de maneira massiva e permanente -, que afeta principalmente crianças entre 4 e 12 anos, apesar dos adultos não estarem livres dela". Assim a Associação Brasileira de Pediculose define a doença, considerada um problema de saúde internacional que afeta toda a comunidade, independente da classe social ou condições de higiene.
De acordo com o dr. Guilherme Sigrist, pediatra da Associação Brasileira de Pediculose, as estatísticas existentes sobre pediculose no Brasil não demonstram, de maneira fiel, qual é a porcentagem da população infestada. Mas para entender a dimensão do problema basta saber que no ano passado foram vendidas 8 milhões de unidades de produtos piolhicidas no país e este número cresce anualmente. As estatísticas, aplicadas por analogia ao Brasil, mostram que a pediculose predomina sobre todas as demais doenças infantis combinadas. Apesar das campanhas de prevenção, o problema continua agudo, sobretudo para a população infantil e escolar. O editorial Pediculicide Performance, Profit and the Public Health, em Archives of Dermatology, publicação da American Medical Association dos Estados Unidos, afirmam que foi demonstrado que organismos causadores de tifo e febre recorrente se reproduzem nos piolhos da cabeça e do corpo.
As conseqüências da pediculose afetam tanto o campo físico como o psicológico e social. "A pediculose pode produzir dermatites severas com coceira intensa, o que pode provocar mudança no comportamento da criança, como insônia, por exemplo. Em casos mais graves, pode-se chegar à adenopatia (inflamação dos gânglios cervicais) e às escoriações passíveis de infecção. Nesse caso, as lesões constituem entradas permanentes de bactérias, inclusive aquelas trazidas pelas fezes do piolho, como por exemplo a Escherichia coli, segundo estudos da Universidade de Miami", alerta Sigrist. O desânimo e a angústia que a chegada dos piolhos produz no ambiente familiar também não podem ser desprezados, assim como os gastos, dedicação e tempo que requer um tratamento eficaz.
LÊNDEA, O PIOR INIMIGO
Ovo é mais resistente aos tratamentos convencionais que o próprio piolho
"O pior inimigo não é o piolho, mas a lêndea. O melhor pediculicida não mata mais que 60% das lêndeas", afirma o Dr. Guilherme José Sigrist, pediatra colaborador da Associação Brasileira de Pediculose.
No volume Dermatologia Neonatal e Pediátrica (Edimed, junho/1995, Buenos Aires), no capítulo que se refere às parasitoses, a Dra. Irene Glikin explica que "as lêndeas são ovais, pequenas (aproximadamente 0,5 mm) e hermeticamente fechadas, o que dificulta a ação dos medicamentos sobre elas. Além disso, os ovos são fixados nos fios de cabelo por uma espécie de cimento muito firme (substância quitinosa)".
A expectativa de vida dos piolhos é de 40 dias. Durante seu ciclo biológico, cada fêmea deposita cerca de 200 ovos. O período de incubação da lêndea é de oito dias e, dentro de mais oito, temos um piolho adulto pronto para a reprodução. Para ser eficaz, qualquer tratamento precisa levar em conta este ciclo.
PREVENÇÃO
Os piolhos se proliferam, sobretudo, em ambientes quentes e úmidos. Mas, ao contrário do que se imagina, sua incidência não têm relação direta com a higiene. A pediculose também não respeita barreiras sociais, econômicas ou geográficas e tem alcançado uma proliferação surpreendente, como demonstra o aumento, ano a ano, das vendas de piolhicidas no país.
O Dr. Guilherme Sigrist esclare que, assim como acontece com as bactérias diante dos antibióticos, os piolhos criam resistências contra os pediculicidas, razão das constantes mudanças que os laboratórios fazem em suas fórmulas.
As pesquisas têm procurado encontrar um produto que modifique as condições do habitat do parasita (o couro cabeludo) tornando-o inabitável. Até que os resultados não se concretizem, o exame periódico da cabeça das crianças e o uso do pente fino de metal é a melhor prevenção.
ESCOLHENDO O TRATAMENTO
Ainda hoje existe a crença em métodos caseiros e comprovadamente improdutivos na eliminação dos piolhos. O mais difundido e que apresenta as mais graves conseqüências - coceira, lesões e intoxicação - é o querosene. Por outro lado, também é prejudicial o exagero das promessas feitas por alguns pediculicidas, segundo aponta artigo de Archives of Dermatology: "Lamentavelmente a publicidade farmacêutica não tem sido fonte de esclarecimentos, em detrimento da divulgação de práticas coerentes de diagnóstico, tratamento e prevenção da pediculose. Essas empresas não têm considerado a fé excessiva da população nos supostos benefícios dos produtos que comercializam, e muito menos sua segurança".
Nos Estados Unidos, o FTC (Federal Trade Commision) obrigou os grandes laboratórios a retirarem de seus produtos etiquetas com a promessa de que matam 100% das lêndeas, por falta de trabalhos científicos que o demonstrem. "Não existem fórmulas mágicas quando o assunto é pediculose. Não há pediculicidadas que eliminam 100% de piolhos e lêndeas", confirma o Dr. Guilherme Sigrist.
Segundo a Associação Brasileira de Pediculose, a utilização de produtos medicinais sem uma conduta organizada e completa só aumentará a resistência dos parasitas, anulando o efeito dos produtos. As instruções para a aplicação de shampoos medicinais devem ser seguidas ao pé da letra. As datas dessas aplicações devem coincidir com o ciclo de vida do parasita.
Outro ponto importante é o fato de que os pediculicidas contêm substâncias tóxicas. Todo produto medicinal, toda droga, pode conter uma certa toxidade. A reação a ela varia de indivíduo para indivíduo. "Alguns produtos, se utilizados sem controle, podem causar sérios problemas. Se usados em excesso e por um longo período, ao serem absorvidos podem causar até mesmo danos ao sistema nervoso central", explica Sigrist. No caso de pediculicidas, podem surgir, por exemplo, irritações cutâneas ou da mucosa ocular. Os especialistas recomendam o uso de espumas - que não escorrem-, ou uma toalha para proteger olhos, boca e ouvidos durante a aplicação dos medicamentos. "O pente fino é o método mais simples e totalmente natural na eliminação de piolhos e lêndeas, não causando alergias ou intoxicação de qualquer espécie", explica o pediatra.
A American Medical Association enumera os benefícios do uso do pente fino e a eliminação total das lêndeas, quebrando assim o ciclo biológico do parasita e extirpando a doença:
· Impede a auto-reinfestação e a transmissão a outros durante os sete dias
· anteriores à segunda etapa do tratamento;
· Elimina ou diminui a necessidade eventual de um segundo tratamento, limitando a exposição de crianças muito pequenas e lactantes aos pesticidas;
· Potencializa a eficácia dos pediculicidas, ao permitir o uso de produtos menos tóxicos;
· A difusão de práticas para a eliminação de lêndeas obriga a uma observação periódica e metódica da cabeça das crianças. Este é o melhor método de prevenção da pediculose.
CONSELHOS DE PREVENÇÃO
Já que é impossível evitar o contato entre as crianças em escolas, parques, etc, os conselhos mais eficazes para prevenir a invasão dos parasitas são:
- Não compartilhar objetos pessoais como pentes, escovas, bonés, gorros, bandanas, tiaras, travesseiros, almofadas.
- Manter os cabelos curtos ou presos;
- Desinfetar com o pediculicida ou água quente (60 graus), objetos de uso pessoal que podem estar infestados;
- Lavar com água quente (60 graus) fronhas, lençóis e toalhas de quem está com piolhos;
- Limpar com aspirador de pó poltronas, almofadas e bichos de pelúcia, onde os piolhos podem ter ficado;
- Passar periodicamente o pente fino.